Poema de autoria de um dos meus escritores favoritos, João Cabral de Melo Neto. Quanto mais leio, mais me encanto com a obra do escritor pernambucano.
O Artista inconfessável
João Cabral de Melo Neto
Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.
Extraído de O artista incofessável, editora alfaguara, 2007.
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