quarta-feira, 13 de setembro de 2017
Poemas domados
Continuo a descobri a obra do pernambucano João Cabral de Melo Neto:
Poema nenhum se autonomiza
no primeiro ditar-se, escoçado
nem no construí-lo, nem no passar-se
a limpo do datilografá-lo.
Um poema é o que há de mais instável
ele se multiplica e divide,
se pratica as quatro operações
enquanto em nós e de nós exite
Um poema é sempre como um câncer:
que química, cobalto, indivíduo
parou os pés deste potro solto?
Só o mumificá-lo, pô-lo em livro.
João Cabral de Melo Neto. Trecho do poema o que se diz a editor a propósito de poemas. Extraído de A escola das facas (1975-1980), editora alfaguara, 2008.
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