quarta-feira, 10 de junho de 2020

The heart is a lonely hunter by Carson McCullers



"I'm a stranger in a strange land.'"





"He was like a man who had served a term in prison or had been to Harvard College or had lived for a long time with foreigners in South America. He was like a person who had been somewhere that other people are not likely to go or had done something that others are not apt to do."




"She wanted to sing. All the songs she knew pushed up toward her throat, but there was no sound."

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Homens imprudentemente poéticos - Valter Hugo Mãe

"O oleiro começara a cuidar de flores na orla da montanha havia muito. (...) Acusado de se esperançar por belezas de que a natureza prescindira. (...) Nunca o dissera à Senhora Fuyu, que sentira por intuição um gesto de amor em cada pé de flor. (...) Queria que ela fosse tão propensa ao sorriso quanto o pudesse ser. (...) Padecia daquela beleza. Pensavam assim. Que tudo quanto consolava as pessoas era trabalho e um esforço terrível" - Valter Hugo Mãe, homens imprudentemente poéticos.

Um livro sobre intolerância e a beleza que media a experiência com o transcendental. Um significado para a vida que vai além do trabalho e do esforço. Seria a beleza uma espécie de universal? Tenho me feito esta pergunta frequentemente. Quem nunca experimentou um momento de enlevo resultante do contato com o belo. Uma elevação do espírito ao contemplar um jardim, durante uma visita a uma imensa catedral, o trabalho inspirado de um artística. Me parece que todos nós temos uma conceituação (simples ou de elevada complexidade) para descrever o que é o belo. Por que certas coisas nos inspiram sentimentos de transcendência e outras coisas não?

Além disso, por que só conseguimos ver a morte? O desespero se alastra por todos os lados, por todas as artes. A mim, me parece que a a arte do Século XX se preocupou excessivamente em retratar o desamparo da experiência da existência humana. O belo foi esquecido. O que se iniciou na filosofia foi vagamente se alastrado por toda a parte e hoje está na música, no cinema ou na televisão. O homem não enxerga mais a beleza ao seu redor. Não se reconhece mais como uma expressão de ordem, propósito e beleza, mas se percebe apenas como o que é natural e sem propósito, evolutivo e decorrente do aleatório. E por não se reconhecer no próximo, se refugia na intolerância e no ressentimento.

Mas há também aqui uma contradição. Mais do que não reconhecer esta imagem, há muito esforço em apenas padronizá-lo. Numa espécie de epidemia narcisística, se multiplica a intolerância contra o diferente e contraditório, se multiplicam a busca por "espaços seguros", a necessidade do coro das afirmações. O diferente (ou a beleza que há além do exótico, inesperado ou mesmo do paradoxo) é temido e rechaçado. Queremos mais do mesmo. Mais de nós mesmos.

"Aos aldeões, o oleiro declarou: quero mostrar o amor, lamento que só vejam a morte." - Valter Hugo Mãe.

domingo, 17 de novembro de 2019

Sivuca

"Um olhar pra parede e uma prece pro céu chorar... sei lá...
(...)
Tanta água no coco e o riacho tão seco e só
O cercado é de toco e o arado é de pedra e pó
Um cavalo novilho e um filho que vai chegar
Sei lá...
Tem cabelo de milho o brilho do sol no olhar
Sei lá...
Se pudesse o sol chover só a metade do que chove no meu coração
Dava um lago pra beber e o chão virava neve de tanto algodão
Filho pra criar, crescer e o gosto de rever moringa na janela
Tanto milho pra colher de nunca mais se ver o fundo da panela"

Não sei exatamente quando Sinuca escreveu a canção "Cabelo de Milho", mas eu só a conheci muito tempo depois do seu lançamento, já no Século XXI. O tema é recorrente, mas a imagem criada pelos versos é original. Um filho num breve por vir, a incerteza da seca, talvez seja uma das mais precisas metáfora sobre a angústia e a pobreza. A verdade é que a vida muda quando outras vidas dependem da nossa. Não que haja nisso o que se arrepender, mas uma nova perspectiva.
Sempre penso nesse garoto com cabelo de milho e o brilho do sol no olhar... Talvez toda criança tenha esse brilho no olhar. Talvez, todo pai enxergue esse brilho no olhar do seu rebento, renovo, esperança, novo amanhecer. A vida que se perpetua, apesar do pesar.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Como devíamos ouvir ?

"The great majority of us cannot listen; we find ourselves compelled to evaluate, because listening is too dangerous. The first requirement is courage, and we do not always have it." - Carl Rogers.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Inspiratio

O primeiro livro lido em 2018, Inspiratio é uma obra singular, escrita pelo Osmar Ludovico. Já havia ouvido falar sobre o autor, mas como sempre, demoro a me aventurar numa nova estética literária, em parte devido a minha resistência natural, em parte, à lista imensa de livros pra ler. Desta vez resolvi ser mais ousado e parti logo para a leitura deste bem referenciado livro.

Com capítulos pequenos, que compõe um conjunto sobre um mesmo tema, Inspiratio nos traz reflexões profundas e me fez repensar muitos aspectos de minha vida.
Inspiratio é uma chamada à disciplina so simples, porém profundo, uma reflexão sobre o íntimo e secreto em contraste com os grandes espetáculos da fé, o triunfalismo e o superficial.

Leitura recomendada.

Armadilha, altares e credibilidade.

A questão estética é uma armadilha. A ilusão do Marketing, a nossa crise é de credibilidade. "As pessoas estão abrindo mão da própria identidade para se moldar aos esterótipos estabelecidos pela sociedade" - aparentar ser o que não é. Altares são memórias, são lembranças daquilo que Deus fez por nós.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

A beleza da verdade e a verdade da beleza

Como podem as pessoas viver como se não tivesse espaço neste mundo bonito, sob este céu estrelado e imensurável?

Como é possível, em meio a essa natureza fascinante, persistir na alma do homem o sentimento de rancor, de vingança ou a paixão de aniquilar seus semelhantes? Parece que tudo de ruim no coração do homem deveria desaparecer em contato com a natureza - essa expressão da beleza e do bem.

Liev Tolstoi in Contos

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Sobre amizades

"Não creio que é possível amar a Deus e não ter amigos; mas em ter vínculos, afetos e amizades que evidenciam um real compromisso com Deus"

Osmar Luvodico in Inspiratio

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

O passado que vive dentro de nós

Existe um passado que vive dentro de mim. Uma miragem de palavras, gestos e angústias. Uma miríade de momentos inesquecíveis. São tantos rostos, tantos sorrisos, tantas lágrimas e tantas despedidas que se fundem no calor intermitende desta fornalhada avermelhada, a memória, o consciente e o inconsequente. Ali são forjadas as armas da nossa autodefesa, o precioso escudo das angústias e das dores. A morte lenta que se destila na saudades de não mais viver, no segredo de não mais existir, de não mais haver. E meus amigos cadê ? Minhas alegrias e meus cansaços ? Eram paradas de ônibus, e o soar de alarmes que anunciavam o fim do intervalo (ou do recreio). Eram segredos que se contavam ao pé do ouvido, na certeza enganosa de não se propagarem. Era o desejo de ser grande, de ser outro alguém, da liberdade, e da responsabilidade inerente. Eram as tardes de domingo, em seu sofrego andamento. Eram os sonhos. Os sonhos abandonados pela ânsia de crescer, de ser livre. Somos livres ? Não se sabe ao certo como tudo começou, mas estão lá guardados, entre miragens e visões, entre delírios e angústias, o eterno brilho de uma mente com muitas memórias. Translúcidas, pungentes, vagas e melancólicas lembranças.