segunda-feira, 27 de junho de 2011

Se não Ouviu, ouça! – Plantando a Semente/Fruto da Semente – Grupo Semente (1985)


Nascido em 1982, o grupo Semente conseguiu unir num mesmo projeto uma equipe invejável músicos e compositores dos anos 80. Guilherme Kerr Neto, Sergio Pimenta, Nelson Bomilcar, Gerson Ortega, Jorge Camargo, Edy Chagas, Marcos Mônaco, Miriam Ortega, Carla Bomilcar, Sonia Pimenta e Helio Campos estiveram juntos por 7 anos em torno desta visão de compartilhar uma musica com conteúdo da palavra de Deus e com o melhor da nossa cultura.

Gravaram Plantando a Semente que trouxe as canções “Nem um momento só”, “Trigo e Joio” e “Resposta Certa”. Com certeza é um trabalho excepcional, entretanto, como o proprio nome sugere, algo maior ainda estava por vir. E se a semente já era assim, imaginem então o seu fruto.

 Fruto da semente trouxe uma riqueza musical singular. Do chorinho ao rock, passando pela musica instrumental, este álbum se destaca pela preciosidade da poesia do Sergio Pimenta, pela suavidade da interpretação do Jorge Camargo que deu vida a belíssima canção “Fruto da Semente”, a interpretação comovente no piano do Gerson Ortega em “Ele é o teu louvor”, além das belíssimas harmonizações vocais de “Vem Comigo”, “Nada como antes”, “Antes” e “Idéia Melhor”. E o que falar do solo de saxofone do Marcos Mônaco em “Vem Comigo”?!


O legado musical do Grupo Semente é indiscutível. Trouxe a poesia e a musicalidade brasileira para a música cristã e contribuiu para fortalecer a visão que foi gerada pelo “De vento em popa”. Alias, muitos dos integrantes do Grupo Semente,  participaram deste e certamente criaram ali um vinculo que culminou com o nascimento do grupo.


domingo, 12 de junho de 2011

Se não ouviu, ouça! – Rebanhão- Mais doce que o mel (1981)

Este ano esta fazendo trinta anos do lançamento do Mais doce que o mel do Rebanhão. Este é outro album que tem uma importancia imensuravel para a musica cristã brasileira. Representou uma ruptura e trouxe novos horizontes e hoje em dia ainda é dificil encontrar alguem que viveu aquela época e nao tenha sido impactado pela musica e pela pregação do Rebanhão e do Janires.

Gravado nos idos de 1981, foi o primeiro trabalho do grupo idealizado pelo Janires que contava ainda com a presença do vocalista e guitarrista Carlinhos Félix, do baterista Kandell Rocha, do percursionista Zé Alberto, do baixista Paulo Marotta.


Sem duvida a proposta do Janires era revolucionaria para época e por vezes ele foi tido por herege. O grupo se propos a investir numa linguagem urbana e longe das formulas de evangelismo vigentes da época, incorporou ao Rock n Roll, Country, Jazz e Disco a musicalidade brasileira do samba, choro e baião pra compor um álbum singular.

Lançado pela gravadora Doce Harmonia, o LP teve um impacto muito profundo na época e muitas radios se recusaram a tocar e igreja a receber o grupo. A propria capa já dava o tom da ruptura. No lugar daquelas tradicionais fotos de pessoas com a biblia na mão, vestidas de paletó e gravata, um cidadão de camisa aberta: Janires Magalhães Manso.

Aliás, Janires era uma figura a parte, “Ironizava os políticos corruptos, os comerciais da TV, parodiava filmes e novelas, falava das realidades, de sonhos, fracassos e frustrações, do pecado e da miséria resultante, para apresentar, em fulgurante contraste, a estonteante luz, a estupenda graça e a infinita paz de Jesus Cristo”, segundo o próprio Paulinho.


As letras do Janires são fantásticas. Primeiro baião gravado por um musico evangélico brasileiro, Baião revela bem o estilo literario de Janires, ironico e ousado, Janires faz o que hoje talvez as pessoas chamariam de missões urbanas, trazendo as verdades do evangelho para o dia a dia das pessoas dos grandes centros urbanos. O que fala de Salas de Jantar e o seu famosissimo verso:

"Mas como já ensinava o velho profeta,
se a tristeza tentar pegar o seu coração,
pegue a guitarra e cante um Rock,
pra louva a Jesus, pra louvar a Jesus"

Como dizia o proprio Janires numa gravação sua em K-7 que rola ai pela net, tudo que ele queria era falar sobre a realidade.Realidade que está bem presente numa das suas canções mais conhecidas. Casinha é um chorinho na sua concepção musical, mas é tão atemporal e profunda que ultrapassa os limites musicais e é capaz de falar ao coração de todos!


Segundo o proprio Paulo Marota, "Essa música nos abriu espaços e muitas oportunidades para pregar o Evangelho em praias, praças, teatros, rádios (não posso esquecer do Paulo César Graça e Paz e da Radio Boas Novas em Vila Isabel, no Rio, onde tudo começou), TV, jornais, coretos, estações, e ruas desse Brasil afora. Muitas pessoas ouviram o Evangelho da boca do Janires, e algumas delas tiveram suas vidas transformadas pelo poder do Evangelho de Jesus Cristo."

Sem dúvida, ao contrario do que possa parecer para alguns, a musica do Rebanhão não se tratava de modismo, mas de uma nova linguagem que tinha como propósito principal alcançar os inalcançaveis. A diferença maior era a motivação: Evangelizar!

Musicas:
1. Tudo Passa (ouça aqui)
2. Monte (ouça aqui)
3. Mel (ouça aqui)
4. Pout-pourri: Salas de Jantar (ouça aqui)
5. Passageiro (ouça aqui)
6. Baião (ouça aqui)
7. Refúgio (ouça aqui)
8. Amizade (ouça aqui)
9. Casinha (ouça aqui)
10. Tudo é meu (ouça aqui)
Sem duvida, Mais doce que o mel é uma importante obra da musica brasileira! Se não ouviu, ouça!

sábado, 11 de junho de 2011

Se não ouviu, ouça! – De vento em popa – Vencedores Por Cristo (1977)



O ano era 1977, a equipe reunia muita gente talentosa, Sérgio Pimenta, Aristeu Pires, Guilherme Kerr, Edy Chagas e Artur Mendes. Fundada pelo missionário americano Jaime Kemp em 1968 com o objetivo de preparar jovens universitários e pré-universitarios para a evangelização, VPC gravou rádios álbuns antes de apostar num trabalho inteiramente brasileiro.


 
Sergio Leoto, Guilherme Kerr, Arthur Mendes e Ederly Chagas, em ensaio vocal para gravação de de vento em popa. Fonte: VPC


O momento nas igrejas evangélicas era outro e muitas igrejas ainda se quer aceitavam guitarra e bateria na sua liturgia. O hinário era composto especialmente de hinos americanos traduzidos para o português pelos missionários e ritmos brasileiros passavam longe da porta da igreja.

Foi neste tempo de grandes transformações na sociedade brasileira, quando a boa musica aflorava por todas as esquinas das grandes cidades que o Jaime Kemp resolveu dá uma oportunidade para a juventude do VPC gravar um LP apenas com canções próprias. Nascia um marco na historia da musica brasileira, uma verdadeira obra de arte, repleta de melodias e harmonias encantadoras. De vento em popa é uma unanimidade, um divisor de águas, temas de dissertações, estudos e muitos debates sobre a “nacionalização” da liturgia brasileira. Afinal, temos no nosso sangue verde e amarelo as raízes do samba, xote, xaxado e baião.


Livro De Vento em Popa - Fé Cristã e Musica Popular Brasileira (2009) de autoria do Jorge Camargo sobre este trabalho musical que mudou a historia da musica evangelica brasileira.


A canção tema (ouça aqui ) foi composta pelo Aristeu Pires Junior e mesmo que depois disso o Aristeu não tivesse composto mais nada seu legado já seria incontestável. A musica é um primor, com uma levada estilo bossa nova, um coro masculino que lembra o MPB4 canta uma reflexão sobre a vida e sobre abrir o coração para Cristo bem no estilo brasileiro.

Sergio Pimenta


O trabalho tem ainda as canções Sinceramente (Ederly Chagas e Arthur Mendes), Por onde Vais (Sergio Pimenta), Salmo 139 (Aristeu Pires Jr),  Vai Caminhando (Guilherme Kerr), A Roseira (Aristeu Pires Jr),  Vou Chegar (Música: Arthur Mendes, Letra: Sergio Pimenta),  Mais Perto, Canto (Ederly Chagas), o Reino do Filho (Guilherme Kerr), Canção pra Pedro (Aristeu Pires Jr) e Cada Instante (Sergio Pimenta).

Por onde vais tem um fato interessante: Segundo Jorge Camargo (www.jorgecamargo.com.br), a presença do bongô, instrumento de percussão de origem cubana, constituído por dois pequenos tambores unidos por uma barra de metal, e que são tocados com baquetas ou com os dedos. A utilização de um instrumento com essas características em uma gravação de música religiosa cristã naquela época foi considerada por muitos líderes mais conservadores uma verdadeira afronta. Instrumentos de percussão em geral eram associados aos rituais das religiões afro-brasileiras, não podendo, portanto, servir de acompanhamento ou adorno a nenhum tipo de música que se propusesse a ser cristã. O De Vento em Popa mais uma vez revoluciona.


 Acho o album de Vento em Popa fantastico, mas seja qual for a obra, sem temos as nossas preferidas. Eu gosto muito das canções Roseira (ouça aqui), Salmo 139 (ouça aqui), Vai Caminhando, Vou Chegar (ouça aqui), Canção pra Pedro (ouça aqui) e Cada Instantes (ouça aqui).
Eu acho a harmonização de Canção pra Pedro uma obra prima a parte. A interpretação de cada instante singular, além de ser esta uma canção muito intimista. Vou chegar é um verdadeiro hino contra essa coisa esta filosofia barata do  "deixa a vida me levar" que muita gente tanto gosta de repetir.
É um album que vale a penas ouvir nao so pela sua importancia historica mas tambem pela sua qualidade estética, musical e poética. Se nao ouviu ainda, ouça!

domingo, 5 de junho de 2011

Alhambra, Gladir Cabral e Gerson Borges

Alhambra
(Gladir Cabral & Gerson Borges)

"Queria tocar os sinos
Da majestosa catedral
Pensei em compor os hinos
Pintar as faces do vitral
Mas tu me fizeste olhar o chão
E repintar os rodapés
Silenciar em meio à sombra do jardim
E foi assim que eu aprendi
A aguardar o tempo bom
A viração do vento sul
O recomeço da estação
Para plantar, para regar, para podar
Para sonhar o renascer da floração
Perto da terra, umedecer
Em meio à horta, serenar
Tua vontade obedecer
.
Um dia a tristeza disse
Que eu nunca mais seria alguém
Melhor que eu me demitisse
Pulasse deste velho trem
Mas tu me fizeste olhar o céu
E eu comecei a ver melhor
Ver teu amor a envolver a minha dor
E me fazer voar além
Da torre desta catedral
Ares de Allambra, luz e bem,
Logo depois de Portugal
Beira de rio, onda do mar, vento mais frio
Luz do luar, perto da Estrela D’alva
Pra ver a Terra amanhecer
E com o sereno repousar
Onde tua mão me colocar"



Alhambra em árabe significa a vermelha (Al Hamra). É uma cidade localizada no municipio de granada na Espanha. Como outras cidades de origem mulçumana da época, o maior atrativo da cidade é a decoração dos interiores, rica em detalhes da arte islâmica. É considerada patrimonio mundial pela Unesco:

Vista de alhambra a noite.

Vista de alhambra de dia.

Detalhes da arte islâmica em Alhambra:


Depois de postar a letra desta música do seu tumblr, o Gerson Borges nos desafiou a pensar sobre o que esta música fala. Eu não perdi a oportunidade do desafio e comecei a pensar sobre o texto e sem querer ser pretensioso ou suficientemente letrado para trazer a tona toda a riqueza literária da poesia do poeta Gladir Cabral, me dei por satisfeito em trazer a memória algumas passagens biblicas que acredito se encaixarem bem em alguns trechos desta letra.

Sem dúvida a musica fala sobre um tempo oportuno. O pensador escreveu em Eclesiastes: " Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu (Ec 3:1)."
Há tempo oportuno para se "tocar os sinos, Da majestosa catedral", tempo para se "compor os hinos" ou mesmo "Pintar as faces do vitral". O Gladir fala de um tempo de se "repintar os rodapés" e "Silenciar em meio à sombra do jardim". Tempo de reflexão e de aprendizado. Com isso aprendeu a esperar o tempo bom, a viração do tempo sul, para que se possa plantar, regar, colher.

Acho que neste aspecto, Alhambra também fala sobre a importância dos pequenos detalhes que passam desapercebidos por muitos, afinal, todos que conhecem a arte islâmica sabem da riqueza dos detalhes dos vitrais e dos tetos. Quem não se delicia com o som dos sinos e dos belos hinos de uma catedral? Por sua vez eu me pergunto: quantos ja pararam para notar o detalhe dos rodapés de uma grande catedral? De certo, não muitos. Talvez o trabalho nos rodapés seja o inicio de uma grande obra, talvez para se tocar os sinos seja preciso se preparar os rodapés, ou quem sabe o início de nossa jornada esteja nos rodapés. Antes de compor os hinos é preciso conhecer as Catedrais, é preciso saber da sua história, dos seus detalhes. É preciso esperar o tempo oportuno, mas antes que este tempo chegue é preciso que haja a preparação. Ou seria possível alguém colher sem antes arar a terra, lançar a semente, retirar as ervas daninhas e acrescentar os nutrientes necessários?

A segunda parte da música começa com uma frase interessante dentro do contexto. Fala sobre o dia em que a tristeza falou que o autor nunca mais seria alguém. Fico pensando, talvez no momento em que o poeta se debruçou sobre os rodapés, lhe veio a tristeza de se pergunta se nunca mais ele poderia compor. Será que ele nunca mais poderia tocar os sinos novamente? Quem nunca passou por uma crise de falta de inspiração? Ou mesmo de um momento oportuno para criar? Talvez o tempo de pintar o rodapé parecesse um tempo de desperdício: eu deveria estar compondo grandes melodias, não pintando rodapés. Ano passado eu tive a oportunidade de ouvir o Silvestre Kulhmmann no S8 Cultural e uma das coisas que me ficaram marcadas na minha memória foi a apresentação da canção intitulada "O Silencio é a Semente":

Eu procuro uma canção dentro de mim,
Mas nada vem. Estou mudo.
Este silêncio é cortante, pontudo;
Dele nascerá um jardim.

Desta semente silenciosa
Brotarão botões de rosa
Pousarão mil borboletas
Pretas, azuis, violetas.

Neste canteiro,
Um girassol;
Ervas de cheiro,
Um pôr de sol.

O mundo inteiro
Pára pra ouvir o rouxinol
Cantar certeiro
Em sustenido e bemol.

Antes de apresentar este belíssimo soneto composto e musicado por ele, o Silvestre nos contou sobre um tempo em que enfrentou  uma crise de inspiração. Depois deste silêncio que durou um tempo ele finalmente conseguiu compor esta musica.
Ajoelhado diante dos rodapés, esta semente silenciosa brotou no coração do poeta. Silenciar em meio à sombra do jardim nos leva a compreender o momento de tocar os sinos e compor os hinos. Às vezes, é preciso silenciar para se ouvir a voz de Deus nas coisas pequenas da vida.

Mas deveras eu e o poeta não chegaríamos a esta conclusão assim tão facilmente. E foi por isso que a tristeza se chegou e quis lhe fazer acreditar que melhor seria pedir demissão e pular do trem do que continuar pintando os rodapés. Mas mesmo nestes momentos de reflexão solitária, Deus está presente e nos acolhe em meio a nossa própria dor, nos mostra a sua grandeza e as maravilhas das Suas Mãos, nos fazendo lembrar logo além daquelas muralhas existe um Portugual, e logo além, um mar, e além do mar um horizonte, uma Estrela D'Alva e um amanhã. E este amanhã trará consigo o tempo bom que eu tanto espero, o tempo de compor, de tocar os sinos, de colher, de regar e de plantar...

Não posso deixar de registrar aqui a minha admiração por esta belíssima canção, o meu especial apreço pelo poeta Gladir Cabral e também as minhas desculpas a ele e ao Gerson pela ousadia de me prestar a lançar uma fagulha de luz sobre uma canção tão bela e tão rica. Fique aqui registrado que estes comentarios são de minha autoria e os autores não tem nem mesmo ciencia disso (espero que eles nunca tenham, quero continuar sendo amigo deles, rsrsrs). Dificil falar sobre uma canção tão bela, principalmente para alguem como eu que entende mais de fórmulas e reações químicas. E ai pessoal? Voces concordam com minhas palavras? Discordam? Deixa um comentário...